Thursday, October 15, 2020

apneia

Tenho pensado todos os dias em escrever aqui mas o tempo passa a correr e este ano parece estar a correr à velocidade da luz.

Cada dia que passa, mais me apercebo que estamos a viver um filme de ficção ciêntífica, daqueles que nos faz pensar - porra, ainda bem que isto é só um filme e que é completamente utópico. Não podia estar mais errada. O ser humano é de facto um animal de rituais e de círculos viciosos que, inevitávelmente volta a cair sempre na mesma ratoeira vezes sem conta. 

Neste dia voltamos ao estado de calamidade imposto pelo Estado. Os números de casos infectados estão estupidamente altos. Era inevitável haver implementação de medidas. O país não vai fechar nem parar, é incomportável mas vemos mais uma vez a nossa pseudo liberdade a ser castrada lentamente. 

A cultura está pela rua da amargura. Um sector esquecido na miséria. A mim custa-me horrores não poder ter os meus concertos. Não poder estar numa sala de espectáculos apinhada, a suar e a vibrar com milhares de pessoas à minha volta. Como já disse umas centenas de vezes, estou a viver uma vida que nunca aspirei ter. Nunca tive tanto tempo em casa. Nunca tive tanto tempo parada.

No outro dia conversava com a Andreia e ela dizia que temos de viver o agora porque o passado e o antes, já era e nada será igual. Não podemos ser ingénuos ao ponto de pensar que vai haver um pós pandemia. Este virus irá estar connosco para sempre, então, não vale a pena pensar que amanhã será melhor e dizer "já passou" porque não vai passar. É triste pensar assim mas mais vale ser realista do que viver no engano. Dói menos? Não. É o que há.

A minha vida levou mais uma vez um belo pontapé. Vi-me obrigada a desistir do projecto que me era muito querido mas era impossível continuar. De Março até Setembro, foram meses muito duros. Curiosamente estou muito mais calma e tranquila.

O lado positivo é que este ano estou a conseguir aproveitar ao máximo o sol, a praia, a natureza, o parar, o sentir, os amigos, simplesmente eu. Em Agosto conheci uma pessoa nova que, apesar de estar a 300km de distância, me tem feito bem e feito sentir algo bom.

Este ano iria passar o meu aniversário longe. Já que não é possível estar com todas as pessoas que quero, não iria estar com ninguém. Mas até este plano foi ontem cancelado e deparo-me com a velha guarda "o que fazer nos anos?". Sei que não me quero preocupar nem chatear com nada, por isso queria estar distante destas coisas todas. 

Ambiciono tanta coisa mas parece que no fundo acabo por não ambicionar nada. Preciso urgentemente de dar a volta, de seguir em frente, de ultrapassar. Bem sei que é um processo e que nada que implica mudança (para melhor) pode ser repentino, porque para o pior, isso sim é num piscar de olhos. A vida é um instante e se não tivermos os pés bem assentes no chão, corremos o risco de ser levados pela corrente.

Sinto que o mundo está cada vez mais ignorante e intolerante. Quero ter a esperança que possamos aprender alguma coisa com esta experiência louca. Será?